A palavra nunca é uma aparição silenciosa. Os seus ramos são
sonoros, a sua pupila fala, a sua garganta enuncia o murmúrio das
artérias. No entanto, o silêncio é a sua clareira onde a si próprio
advém e se reconhece como o princípio de si mesma. Num espaço
novo e virgem o silêncio é a nascente antiga onde a claridade
acaba de nascer. A égua aveludada dos primeiros nomes abre um
caminho atapetado de pálpebras e de um pólen móvel, sinal da
origem e da união futura. A palavra não encontra o centro que a
move mas, de anel em anel, aproxima-se do seu fabuloso
horizonte, que é a mesa de argila do mundo.
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António Ramos Rosa, in "Relâmpago de Nada", Ed. Labirinto, 2004
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