sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

III. Companheiros, Dão-me Tão Mau
Tratamento
Companheiros, dão-me tão mau tratamento
que só o canto me vale e o lamento.
Mas não quero que algo de mim se saiba de momento.

E dir-vos-ei o que tenho em pensamento:
nem cona à guarda ou poço sem peixe aguento,
nem gabarolices de um parvo impotente e nojento.

Senhor Deus, que és guia e rei do firmamento,
porque ao primeiro guardador deste alento?
Nunca a um senhor se fez guarda ou serviço tão violento.

Dir-vos-ei qual é da cona o regimento,
como alguém que mal lhe fez e tem tormento;
se o uso gasta as coisas, na cona provoca aumento.

E quem não aceite o meu ensinamento
vá ao recanto de um bosque opulento:
por cada árvore cortada há mais do que um rebento.

Cortado o bosque é certo o seu crescimento;
seu dono não perde o ganho ou o sustento.
Sem razão se chora o corte sem empobrecimento.

Mau é lamentar um corte sem empobrecimento.

Guilherme IX de Aquitânia (1071-1126)
Poesia
(tradução e introdução de Arnaldo Saraiva)

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