sábado, 2 de julho de 2016

Polisoir Milagroso

No inverno os gritos dos semáforos caem ao mar
crivados de vento e de crucificação
Numa gota do meu sangue pode afundar-se um barco

do meu sangue caindo sobre o peito
de uma marquesa Luís XV de espuma

Esta paisagem gela menos ao espelho
do que sobre as unhas dos mortos
que hão-de ressuscitar com os dedos em flor
flor de agonia extinta e de salvação

Dividida como um vale de Josafat
espera-a a risca do meu cabelo
enquanto Cristo condena
a virgem Maria com um penteador branco
dará um naco de pão aos condenados
e porá um pássaro de carícias
na testa dos que se salvarem

Luis Buñuel (1900-1983)
Os Poemas de Luis Buñuel
(tradução de Mário Cesariny)

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