(Crónica de hoje na plataforma Sapo24)
Estamos
a atingir um ponto limite de desconfiança sobre a raça humana. Até o
jornalismo perdeu a sua maior arma: a credibilidade. Ninguém acredita em
ninguém, números e factos são sempre contraditados com perguntas e
dúvidas, e o óbvio tornou-se duvidoso.
O debate aberto pela cimeira
do clima é um bom exemplo. É verdade - porque se vê, não porque se diga…
- que o degelo prova algumas teorias mais alarmistas. Cito uma notícia
da SIC: “As imagens de helicóptero do maior dos glaciares do Monte
Branco são raras e despertam para uma realidade dos nossos dias. Entre
2003 e 2012, o mar do gelo perdeu 4 a 5 metros”. As imagens deste
acelerado degelo não têm contraditório possível e não auguram nada de
bom - mas, ao mesmo tempo, e enquanto isto acontece, há vozes
aparentemente credíveis que levantam dúvidas e nos deixam a pulga atrás
da orelha. Philippe Verdier, que nos últimos 20 anos deu a cara pela
departamento meteorológico da cadeia de TV France-2, foi despedido no
momento em que decidiu escrever e publicar um livro (“Climat
Investigation”), em que procurou o outro lado dos efeitos do aquecimento
do planeta. No que respeita à França, Verdier contabilizou a poupança
energética que o aumento da temperatura permitiu, bem como o aumento da
produção de alguns cereais, a diminuição do numero de óbitos em
consequência da gripe, e não teve medo de denunciar a sempre delicada
ligação entre os investigadores e os “lobbies” económicos ligados ao
negócio da ecologia e do ambiente.
Não é a primeira voz a alertar
para este outro lado negro de uma situação que nos devia unir, e nunca
dividir. Já houve cientistas que lembraram a impossibilidade de prever o
futuro de uma natureza que, por si, é imprevisível - e tem demonstrado
ao longo de milhões de anos que pode sempre mudar o curso dos
acontecimentos quando menos se espera, seja num tsunami ou no acordar de
um vulcão.
Numa pesquisa simples na Internet, podemos encontrar
James Lovelock, 88 anos, um dos mais influentes cientistas do nosso
tempo, afirmar peremptoriamente que a raça humana está condenada: até
2020 a seca será assunto do dia, “o Saara vai invadir a Europa, e Berlim
será tão quente quanto Bagdad”. Ele prevê que, até 2100, a população do
planeta encolha de 6,6 bilhões de habitantes para cerca de 500 milhões.
Mas ao lado, na mesma busca, encontramos o meteorologista brasileiro
Luiz Carlos Molion, com mais de 40 anos de trabalho desenvolvido,
assegurar que o aquecimento global não constitui qualquer drama para o
planeta. E vai mais longe: “o problema é que quem não é a favor do
aquecimento global sofre retaliações, têm seus projetos reprovados e
seus artigos não são aceites para publicação. E eles (os governos) estão
prejudicando a Nação, a sociedade, e não a minha pessoa”…
Há
qualquer coisa perto da paranóia nesta sensação de insegurança, de chão a
fugir-nos debaixo dos pés. Desconfiamos de tudo e de todos.
Em quem acreditar? Quem seguir? O que fazer? A intuição é suficiente?
Não
tenho resposta para qualquer destas perguntas. Mas tenho uma certeza:
nunca, como hoje, foi tão difícil acreditar no que nos dizem. E isso
preocupa-me tanto ou mais do que o estado do ambiente na Terra.
(sublinhhado meu)
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