sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

[Vagueia o poeta pelos campos; admira,]
Vagueia o poeta pelos campos; admira,
Adora; ouve dentro de si mesmo uma lira.
E ao vê-lo chegar, as flores, todas as flores, 
As que dos rubis empalidecem as cores,
As que dos pavões deixam as caudas ofuscadas,
As florezinhas azuis, as florezinhas douradas
Tomam, para o acolher, nos seus ramos agitados,
Arzinhos humildes, ou grandes ares afectados,
E, familiarmente, porque fica bem às belas:
«Olha! É o nosso amado que passa!», dizem elas.
E, cheias de luz e de sombra, com vozes inquietas,
As árvores gigantescas que vivem nas florestas,
Todas essas velhinhas, as tílias, os áceres, os teixos,
Os carvalhos venerandos, os enrugados freixos,
O olmo de negra ramagem, que o musgo entorpece,
Como os ulemas fazem quando o mufti aparece,
Saúdam-no com grandes vénias, curvando para a terra
As cabeças de folhagem e as suas barbas de hera,
E vendo na sua fronte um sereno esplendor,
Murmuram muito baixinho: É ele! O sonhador!


Victor Hugo (1802-1885)
Poemas
(selecção e tradução de Manuela Parreira da Silva)

Sem comentários:

Enviar um comentário