quinta-feira, 11 de agosto de 2016

mia couto / o bebedor de sóis

No deserto,
onde o céu é redondo,
de mim mesmo sou miragem.

Na areia
me afundo, defunto,
até não haver sombra
senão sob cansaços de pálpebras.

Quando não há mais
que vento e dunas,
em mim invento o derradeiro oásis.

Uma raiz
então me convoca,
pedindo-me certo e definitivo.

Não nasci, porém,
para junto de fontes morar.

De novo,
vou por onde não há caminhos.

E só no fogo deixo pegada.


mia couto
tradutor de chuvas
caminho
2013

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