domingo, 14 de maio de 2017

[...]
Primeiro olha para mim. Muito. Diz-lhe Eu só sei
fingir e correr
pela calada. Finjo que te amo quando caminhamos
por uma zona onde podemos ser assaltados.
Eu finjo a coragem e o acolhimento.
Chego-te para mim para que não percebas como o
meu medo gelou esta zona perigosa. Só que eu começo
a tremer e sugiro-te um pouco desse frio.
Então trememos os dois
no frio do meu medo, de braço dado, passo mais rápido,
confundidos, de braço dado, ausentes um do outro,
rasteiros.
Em silêncio após vários dias, continuamos.
E ainda hoje continuamos.

[...]


Nuno Moura, A Minha Casa,
Lisboa, Tea For One, 2016

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