sábado, 12 de dezembro de 2015

 O Meghaduta


Ah, sublime poeta, aquele primeiro santificado dia
De Asarh no qual, num desconhecido ano, escreveste
O teu Meghaduta! As tuas estrofes são
Como escuros leitos de sonoras nuvens, transformando a desgraça
De todos os amantes separados através do mundo
Em tormentosa música.

Quem poderá falar das espessas nuvens desse dia,
Da alegria da luz, da fúria do vento
Sacudindo com o seu rugido os torreões de Ujjayini?
Quando as tormentosas nuvens colidiram, o seu estrondo libertou
Num único dia o coração aprisionado e aflito de milhares de anos
De abatimento. Lágrimas há muito reprimidas, quebrando
Os laços do tempo, parecem ter caído
Em cascata nesse dia, inundando as tuas nobres estrofes.

Será que cada exilado do mundo nesse dia
Levantou a cabeça, uniu as mãos, olhou a sua casa amada
E cantou às nuvens a mesma
Canção de saudade? Será que cada amante pediu a uma fresca e
liberta nuvem
Para levar nas suas asas uma magoada mensagem de amor
Até à janela distante onde a sua amada
Jazia no chão em desordenadas roupas,
Com o cabelo solto, com os olhos em lágrimas?
[…]

Rabindranath Tagore (1861-1941)
Poesia
(selecção e tradução de José Agostinho Baptista)

Sem comentários:

Enviar um comentário