segunda-feira, 26 de junho de 2017




Agradezco a los árboles sus sombras,
 la protección delgada de sus troncos.
 Al banco la amistad de su respaldo
 y a los faroles su bombilla rota.

 Agradezco a las calles sus esquinas,
 sus rincones oscuros como nidos,
 sus portales sin nadie, resguardados
 de la lluvia y el viento y las miradas.

 Agradezco a los cines sus butacas,
 su oscuridad amiga de los labios,
 y a la tarde su luz porque se marcha
 para que venga el beso y el abrazo.

 Ciudad donde yo amé: ya tiempo y tiempo
 ha pasado de aquel beso primero.
 Hoy te agradezco todos tus paseos,
 tus calles y tus plazas, tus tranvías,

 tus barrios pobres, cómplices de amor,
 toda tu oscuridad amada y triste,
 donde ha nacido, sin embargo, el beso
 largo y continuo en el que vivo ahora.


Jesús López Pacheco




Agradeço à árvore sua sombra,
a protecção delgada do tronco.
Ao banco a amizade do apoio
e ao candeeiro a lâmpada partida.

Agradeço à rua sua esquina,
seus cantos escuros como ninhos,
seus portais sem ninguém, protegidos
da chuva, do vento e dos olhares.

Agradeço ao cinema seus lugares,
a escuridão amiga dos lábios,
e à tarde sua luz porque se vai
para que venha o beijo e o abraço.

Cidade onde em tempo amei, e o tempo 
passou desse beijo primeiro.
Grato te estou por tuas avenidas,
teus eléctricos, ruas e praças,

teus bairros pobres, cúmplices de amor,
tua escuridão amada e triste.
onde contudo nasceu o beijo
em que vivo agora, longo e contínuo.


(Trad. A.M.)

domingo, 25 de junho de 2017



Whirl

The word NORMAL imprints itself
inside the crypt and frightens

Glagolitic priests. I open the wall.
I sit on

the grass. I lean against
the wall. White lumps of lye,

what do you want? My eyes are
safe. The wall is a

mogul’s wall. No connection between a dolphin
in the air and a dolphin in

water. Those three drops are betrayal.
The moon is not a round pontoon,

it’s not. It’s not a piece of mantra in a little notebook.
I’m leaning on honey.


FÁBULA



En el cauce del río seco
una espigada yegua orina sobre un sapo agradecido.
Yo, que voy de paso, sonrío y recuerdo
                    una antigua ley de compensaciones
de la magia: más feo el sapo
más bello y deslumbrante el príncipe.

Ay, pero la abundante orina de la yegua no es amor
y, aunque amorosamente regada,
                  no rompe los hechizos más perversos:
es sólo un poco de agua ácida en esta sequedad solar.

La yegua se aleja trotando aliviada, moviendo
las ancas
como una muchacha. Yo voy por los espinos resecos
recordando al sapo:
                       el pobre no tenía encantamiento
y se quedó solo
y soportando su fealdad inmutable
                                               y ahora meada.

 
José Watanabe




No leito do rio seco
uma égua urina sobre um sapo agradecido.
E eu, que vou a passar, sorrio e recordo
uma lei antiga de compensações 
da magia, quanto mais feio o sapo
mais belo e deslumbrante o príncipe.

Ah, mas a abundante urina da égua não é amor
e, mesmo amorosamente regada,
não quebra os feitiços mais perversos,
é apenas um pouco de água ácida nesta sequia solar.

A égua afasta-se choutando aliviada, a mexer
as ancas
como uma moça. E eu vou pelos ressecos espinhos
a lembrar-me do sapo:
o coitado não tinha encanto
e ficou sozinho,
a sofrer sua fealdade imutável,
mas agora mijada.

(Trad. A.M.)



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1.
Um nó de luz ou uma lágrima
nada mais era quando despertava.

2.
Sabor de água, puro sabor
de ser matinal até doer.

3.
Sabor de ser
ardor de florir
rumor de amanhecer.

4.
Ser
de neve ao fogo um só ardor.

5.
Um só fluir, um só fulgor.




eugénio de andrade
ostinato rigore 1963-1965
poemas
edit. inova
1971


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Há noites que são feitas dos meus braços
E um silêncio comum às violetas.
E há sete luas que são sete traços
De sete noites que nunca foram feitas.
Há noites que levamos à cintura
Como um cinto de grandes borboletas.
E um risco a sangue na nossa carne escura
Duma espada à baínha dum cometa.
Há noites que nos deixam para trás
Enrolados no nosso desencanto
E cisnes brancos que só são iguais
À mais longínqua onda do seu canto.
Há noites que nos levam para onde
O fantasma de nós fica mais perto;
E é sempre a nossa voz que nos responde
E só o nosso nome estava certo.
Há noites que são lírios e são feras
E a nossa exactidão de rosa vil
Reconcilia no frio das esferas
Os astros que se olham de perfil.
Natália Correia

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sábado, 24 de junho de 2017

5 Ways to Become a Radically Better Public Speaker

Audiences want to be taken seriously and have fun. Speakers who deliver both are in demand.
5 Ways to Become a Radically Better Public Speaker

1. Stop giving speeches. Start telling stories.


2. Unless you’re presenting mathematical or scientific figures, ditch the PowerPoint.


3. Know your audience.


4. Be yourself.


5. Stay humble.


https://www.entrepreneur.com/article/296078

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AINDA ME ACOLHO



Ainda me acolho, Pai,
à tua madressilva.
Ali tens a passiflora,
não envelheceu.
O cedro grande, maior ainda.
O forno, dedadas
expungidas pelas portas.
A buganvília, não esqueço,
é preciso cortá-la.
A Mãe não está nem volta.



António Osório

sexta-feira, 23 de junho de 2017

A MINHA TIA


Ficou em coma durante vários meses.
Falar com ela era falar com deus,
sem ficar à espera de resposta,
a acreditar que estava a ouvir.

Quando acordou, desfez-se
em palavras longínquas
que mal tocavam
na pele presente;

só mesmo numas partes
difusas, onde os peixes
não se distinguem da água
nem os mortos dos vivos.

Elogiei-lhe o quarto, na clínica.
Espaçoso, com uma bela vista.
Respondeu: — Se olhares pela janela,
podes ver a tua avó vestida de árvore.

Olhei. E era verdade.
O mar ia batendo o tempo.
Um renque de pinheiros
destacava-se do céu.


TâmarasDouda Correria, Lisboa, 2016.


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Google on track for quantum computer 

breakthrough by end of 2017
The search giant is testing a 20-qubit processor, its most powerful quantum chip yet, and says it will be able to outperform ordinary computers by the end of the year
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Asilo

Se o sonho,
fraturada primavera,
não retorna
O que fazer do inverno?

Ressonhar o verão,
talvez o outono,
saciar-se com o gosto
de alguma brisa
carícia na face rude
do tempo.




PROENÇA FILHO, Domício. "Asilo". In:_____. O risco do jogo. São Paulo: Prumo, 2013.


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LAS RATAS



Las ratas
insidiosas, peludas,
voraces, ingratas,
innumerables, puntiagudas,
alucinantes, piratas,
escurridizas, zancudas,
por los rincones, por las escalinatas,
cataratas de ratas,
expectantes y mudas,
selva de dientes, de patas,
enormes, menudas,
mortificantes, peliagudas,
a saltos, a gatas,
agobiantes, cornudas,
lúgubres, insensatas...
Las ratas:
¡las dudas!

Jesús Lizano




As ratas,
insidiosas, peludas,
vorazes, ingratas,
inumeráveis, pontiagudas,
alucinantes, piratas,
escorredias, pernudas,
pelos cantos e escadarias,
cataratas de ratas,
expectantes e mudas,
selva de dentes, de patas,
enormes, miúdas,
chatas, bicudas,
aos saltos, de gatas,
angustiantes, cornudas,
lúgubres, insensatas...
As ratas: 
as dúvidas!


(Trad. A.M.)


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quinta-feira, 22 de junho de 2017




“The Husband”
by
Anton Chekhov
English translation by Constance Garnett

IN the course of the maneuvres the N—— cavalry regiment halted for a night at the district town of K——. Such an event as the visit of officers always has the most exciting and inspiring effect on the inhabitants of provincial towns. The shopkeepers dream of getting rid of the rusty sausages and “best brand” sardines that have been lying for ten years on their shelves; the inns and restaurants keep open all night; the Military Commandant, his secretary, and the local garrison put on their best uniforms; the police flit to and fro like mad, while the effect on the ladies is beyond all description.
The ladies of K——, hearing the regiment approaching, forsook their pans of boiling jam and ran into the street. Forgetting their morning deshabille and general untidiness, they rushed breathless with excitement to meet the regiment, and listened greedily to the band playing the march. Looking at their pale, ecstatic faces, one might have thought those strains came from some heavenly choir rather than from a military brass band.
“The regiment!” they cried joyfully. “The regiment is coming!”
What could this unknown regiment that came by chance to-day and would depart at dawn to-morrow mean to them?

A Justice”
by
William Faulkner

I
Until Grandfather Compson died, we would go out to the farm every Saturday afternoon. We would leave home right after dinner in the surrey, I in front with Roskus, and Grandfather and Candace (Caddy, we called her) and Jason in the back. Grandfather and Roskus would talk, with the horses going fast, because it was the best team in the county. They would carry the surrey fast along the levels and up some of the hills even. But this was in north Mississippi, and on some of the hills Roskus and I could smell Grandfather’s cigar.
The farm was four miles away. There was a long, low house in the grove, not painted but kept whole and sound by a clever carpenter from the quarters named Sam Fathers, and behind it the barns and smokehouses, and further still, the quarters themselves, also kept whole and sound by Sam Fathers. He did nothing else, and they said he was almost a hundred years old. He lived with the Negroes and they—the white people; the Negroes called him a blue-gum—called him a Negro. But he wasn’t a Negro. That’s what I’m going to tell about.
When we got there, Mr. Stokes, the manager, would send a Negro boy with Caddy and Jason to the creek to fish, because Caddy was a girl and Jason was too little, but I wouldn’t go with them. I would go to Sam Fathers’ shop, where he would be making breast-yokes or wagon wheels, and I would always bring him some tobacco. Then he would stop working and he would fill his pipe—he made them himself, out of creek clay with a reed stem—and he would tell me about the old days. He talked like a nigger—that is, he said his words like niggers do, but he didn’t say the same words—and his hair was nigger hair. But his skin wasn’t quite the color of a light nigger and his nose and his mouth and chin were not nigger nose and mouth and chin. And his shape was not like the shape of a nigger when he gets old. He was straight in the back, not tall, a little broad, and his face was still all the time, like he might be somewhere else all the while he was working or when people, even white people, talked to him, or while he talked to me. It was just the same all the time, like he might be away up on a roof by himself, driving nails. Sometimes he would quit work with something half-finished on the bench, and sit down and smoke. And he wouldn’t jump up and go back to work when Mr. Stokes or even Grandfather came along.
So I would give him the tobacco and he would stop work and sit down and fill his pipe and talk to me.
“These niggers,” he said. “They call me Uncle Blue-Gum. And the white folks, they call me Sam Fathers.”
“Isn’t that your name?” I said.
“No. Not in the old days. I remember. I remember how I never saw but one white man until I was a boy big as you are; a whiskey trader that came every summer to the Plantation. It was the Man himself that named me. He didn’t name me Sam Fathers, though.”
“The Man?” I said.


TARDE



Vago sabor de outono
E de coisas extintas.
Nem desejos nem dor...
Meu coração esquece.

No ar parado voga
Talvez uma saudade
De tudo que perdi,
De tudo que não fui.

Ninguém chama por mim
Nem chamo por ninguém.
Instante calmo e triste...
Como a vida está longe!

No dia húmido cai
Um silêncio dormente.
Uma música ausente
Meu coração embala.


Luís Amaro





.
Darei teu nome a quanto veja
e agarrar-me-ei à imagem do teu corpo
como a hera ao sol do meio-dia.
Tal como o melro correndo as folhas
procura os bichos na nervura,
irei abrindo os sulcos,
a semear a memória,
se certo é que para morrer,
como disse o ancião,
basta só um barulhinho,
o de outro coração
(meu? teu?) ao calar-se.
.
Jenaro Talens
..




ÁNGELES SOBRE ROMA



(II)

Recorrerte sin pausa, como quien
se despereza al sol; ser el sendero
donde inscribir tus huellas. Heme aquí,
acurrucado junto al estallido
que amaga el roce de tu piel.
Cobijo mi pasión a la intemperie
bajo el árbol frondoso de tus sensaciones,
esa implosión de un cuerpo
en el que busco anclarme. Vieja luz
que alumbra, sin embargo, todavía.


(IV)

Daré tu nombre a cuanto vea,
me aferraré a la imagen de tu cuerpo
como la yedra al sol de mediodía.
Igual que el mirlo al recorrer las hojas
busca en la nervadura
los gusanos, iré
a trabajar los surcos,
a sembrar la memoria
si es cierto que para morir,
como dijo el anciano,
basta sólo un ruidillo:
el de otro corazón
(¿mío, tuyo?) al callarse.
   (...)


Jenaro Talens




(II)

Percorrer-te sem descanso, como quem
se espreguiça ao sol; ser o carreiro
onde assinalar o teu rasto. Eis-me aqui,
agachado junto ao estampido
que ameaça o toque da tua pele.
Minha paixão abrigo-a da tormenta
sob a árvore frondosa de teus sentidos,
essa implosão de um corpo
a que tento segurar-me. Velha luz
que ainda ilumina, apesar de tudo.


(IV)

Darei teu nome a tudo quanto vir
e hei-de agarrar-me à imagem do teu corpo
como a hera ao sol do meio-dia.
Tal como o melro correndo as folhas
procura os bichos na nervura,
irei abrindo os sulcos,
a semear a memória,
se certo é que para morrer,
como disse o outro,
basta só um barulhinho,
o de outro coração
(meu? teu?) ao parar.
   (...)

(Trad. A.M.)


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