sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Portuguese born in Compiègne, France, in 1987, Daniel lives in Portugal, near Porto, since he is 10 years old. Daniel Rodrigues became a professional photographer after the passage by the Portuguese Institute of Photography (2010). His career started in the Portuguese newspaper, Correio da Manhã, and he also worked in Global Imagens Agency, responsible for photographs in newspapers as Jornal de Notícias, Diário de Notícias and O Jogo. He is an award winning photographer who in 2013 won a first place in the World Press Photo, Daily Life category, and in 2015 a third place as Photographer of the Year in POYi, among many other awards. In celebration of the new Leica Store and Gallery in Porto, Rodrigues shares his new exhibition.
As a Porto-based photographer, what does the Leica Store & Gallery opening mean for you and the photographer community?
It’s very good! I think it makes sense the first store in the Iberian peninsula to be in Porto for the history that Leica has with this area of the country and because of the Leica factory that is located a few kilometers from the store. Porto is trendy, growing, and the fact that we have a Leica store now will get many Leica lovers to come here. It is the best camera brand in the best city. Perfect combination!
Personally, it’s a huge pride. I am very pleased myself being the first photographer to exhibit at the Porto Leica Store & Gallery. And I’m very happy!
Your focus on photojournalism allows you to tell very compelling stories. What story do you want to tell about the city of Porto?
Yes, as a photojournalist, I am also a storyteller. But in this specific work of Porto it’s different. I do not see my work as a job, but rather as a hobby. And the photographs of Porto is something more personal. I do not try to tell a story with several images but only with one image. When I’m not in assignment or traveling my favorite hobby is walking the streets of Porto with my Leica, listening to music and trying to capture unique moments of this wonderful city. Trying on an image to convey the essence of Porto. A different style from the rest of my work.
Several images revolve around the bridge, a very nice photographic composition – why is this such an important emblem of the city and why do you like to photograph it?
A project of Théophile Seyrig, disciple of Gustave Eiffel. This bridge is a symbol of the city of Oporto. Fully built in iron, it conveys confidence and grandeur. It’s like our Eiffel Tower. The landscape of Porto was different without this bridge. I personally love the bridge and everything around it: the river, the boats, the seagulls, the cliffs, everything is magical. Whenever I return from a long trip I like to go there. It’s my welcome to the city. I like to photograph it because it’s a challenge. And I love challenges! Being the most photographed place of the Porto there are thousands of photographs of her. And I love spending hours looking at her and trying to take a picture, a different look, a look of mine, more personal!
Why monochrome?
Why Monochrome? Because it was the camera that Leica offered me when I won the World Press Photo Award. Most of my work is black and white. If I could, I would always work in black and white. And at the time it was the new relic of Leica and the people of Leica found (and I thank you immensely) that it was the best camera for me. They got it right, because it really is!
Talking about the use of Leica, how do you compare it with other equipment? Meaning, what’s your perception as to Leica’s performance and versatility for photographers to express creativity?
I can not explain. It’s something different, it’s something unique! The whole mechanism, the quality, the noise, everything is different, it’s magic! With a Leica we are more creative, we learn to be better photographers and improve our style. The truth is that shooting with Leica is another level. It’s something that gives me immense pleasure and makes me better.
Share your thoughts on the World Press Photo Award you won back in 2013, what was it like?
It was amazing. For any photojournalist to win the WPP it is something important, something huge. But for me I think it had even more significance because at the time I was unemployed and without material. And it radically changed my life! I returned to have material to photograph, and once again I want to thank Leica, and I got back to work. I went back to practicing what really makes me happy is to photograph. So for me to win a WPP was also a lesson: Never give up!
How do you envision the future of photojournalism? For instance, in relation to technology and smartphones?
There are people who say it will end, I don’t think so. As much as there is technology and smartphones with good cameras there will always be a difference between a photograph taken by a professional and an amateur. I see it as a challenge, why? It forces us to be better, to be more creative, to be different. If there are going to be changes, yes it will for sure. Is it going to be more complicated? Perhaps! But photojournalism will always exist! We must not forget that technology is not always bad. It brought us digital photography. That helped photojournalists a lot. In my opinion of course.
What do you want the audience to walk away with after they see your exhibition?
I hope with my photos to convey the passion I have for this city. That people leave the exhibition and go home thinking how beautiful Porto. If I can make people have emotions with my pictures, even if it is small, I’m already happy. I hope they enjoy the work.
Lastly, what other projects are you working on and is there anything else you’d like to share with our readers?
I’m thinking about doing something about Portugal. I travel a lot and do a lot of things in the world but I still have nothing (other than Porto) about Portugal. About Portuguese culture and traditions. Among many ideas that I have in mind this should be my next big project.
Thanks Daniel!
To know more about Daniel Rodrigues’ work, please visit his official website.
The post Porto in monochrom appeared first on The Leica Camera Blog.
VISIT WEBSITE

[Tínhamos nós voltado à capital maldita,]


.


Tínhamos nós voltado à capital maldita,
Eu vinha de polir isto tranquilamente,
Quando nos sucedeu uma cruel desdita,
Pois um de nós caiu, de súbito, doente.

Uma tuberculose abria-lhe cavernas!
Dá-me rebate ainda o seu tossir profundo!
E eu sempre lembrarei, triste, as palavras ternas,
Com que se despediu de todos e do mundo!

Pobre rapaz robusto e cheio de futuro!
Não sei dum infortúnio imenso como o seu!
Viu o seu fim chegar como um medonho muro,
E, sem querer, aflito e atónito, morreu!

De tal maneira que hoje, eu desgostoso e azedo
Com tanta crueldade e tantas injustiças,
Se inda trabalho é como os presos no degredo,
Com planos de vingança e idéas insubmissas.


E agora, de tal modo a minha vida é dura,
Tenho momentos maus, tão tristes, tão perversos,
Que sinto só desdém pela literatura,
E até desprezo e esqueço os meus amados versos!

Cesário Verde (1855-1886)
O Livro de Cesário Verde
(posfácio e fixação do texto de António Barahona)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Raquel Tavares - Meu Amor de Longe

se um dia destes parar não sei se morro logo,
disse Emília David, a padeira,
não sei se fazer um poema não é fazer um pão
um pão que se tire do forno e se coma quente ainda por entre as 
linhas
um dia destes vejo que não vou parar nunca,
as mãos súbito cheias:
o mundo é só fogo e pão cozido,
e o fogo é que dá ao mundo os fundamentos da forma,
pão comprido nas terras de França,
pão curto agora nestes reinos salgados,
se parar não sei se não caio logo ali redonda no chão frio
como se caísse fundo em mim mesma,
ã mão dentro do pão para comê-lo
- disse ela

Herberto Helder in A Morte sem Mestre, 2014
Lembro-me muito bem do tal cantor basco
que costumava celebrar a chuva no verão
Não ligava quase nada para as conspirações
que recorrentemente se faziam ouvir
debaixo das arcadas noturnas da cidade
naquela época do intermezzo lunar
Foi já depois do fascismo, um pouco antes
da democracia enfaixada em magnólias
O cantor, as arcadas, o perfume e os disparos
me ensinaram que se deve aproveitar a época
de transição para destrinçar o brilho
As revoluções sempre foram o lugar certo
para a descoberta do sossego:
talvez porque nenhuma casa é segura
talvez porque nenhum corpo é seguro
ou talvez porque depois de encarar uma arma
finalmente possa ser possível entender
as múltiplas possibilidades de uma arma.

Matilde Campilho in Jóquei, 2014
con·si·de·rar Conjugar
verbo transitivo
1. Examinar atentamente.
2. Ter em consideração.
3. Ponderarcalcularreputar.
verbo intransitivo
4. Pensarmeditar.
verbo transitivo
5. Julgar-seimaginar-se.
Palavras relacionadas:  .


"considerar", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/considerar [consultado em 01-12-2016]..



con siderar ----> estar com as estrelas
se·di·ção 
substantivo feminino
Tumulto popularrevoltamotim.


"sedição", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, http://www.priberam.pt/dlpo/sedi%C3%A7%C3%A3o [consultado em 01-12-2016].


"Portanto, quanto aos modos de vida, conserva um pé dentro e outro fora. Deixa-te fascinar pelas identidades e pelas tradições — pelas histórias que contam, pela História de que são mensageiras. Mas não te esqueças de conservar um pé dentro e outro fora.
Aprende a ser visitante na tua terra como a fazer-te de casa em terra alheia. Cultiva o choque e o contraste, os cambiantes e as camadas.
Mas não abandones o teu lugar - não te deixes puxar para baixo até um ponto que te embruteça nem suficientemente para cima até teres de representar um papel.
Sobretudo isso: enquanto puderes, ignora os arquétipos e aquilo que julgas esperarem de ti. Rejeita as unanimidades, as ideias definitivas, as equipas. E, quando te achares absorto de indignação, procura descer um grau para a perplexidade.
A perplexidade é o gesto mais negligenciado deste tempo. Não construas sistemas filosóficos em torno da tua perplexidade. Aprende a surpreender-te.
Aprende a amar a perplexidade.
E conserva um pé dentro e outro fora - sempre um pé dentro e outro fora. Não procures pertencer ao que não pertences. Não te envergonhes daquilo a que já pertenceste. Arrepende-te e tenta de novo.
Soma hipóteses, em vez de as excluíres. Deixa-te maravilhar com a simples possibilidade. E - muito importante - proíbe-te de gostar e não gostar.
Não elimines porque não gostas nem chames os acrobatas porque gostas. É o grau zero do pensamento, este nosso gostar e não gostar de hoje. Deixa-te impressionar por aquilo de que não gostas – encantador será poderes começar a gostar disso também.
Não sejas cínico: sê múltiplo. Aprende a povoar-te. Evita os absolutos. Ama o que puderes.
Faças o que fizeres, e quanto aos modos de vida, conserva um pé dentro e outro fora - e fá-lo tanto se viveres no campo como se viveres na cidade."



Joel Neto, em A vida no campo
Sonha
como se os caminhos da vida
não tivessem
obstáculos. 
Hoje sou feliz
porque quero
porque posso
e porque mando.
Por mais que te digam o contrário,
na vida, o mais importante,
não é tanto o que tu tens
mas sim o que tu és.
A MORTE E A DONZELA



AMY LOWELL (E.U.A., 1874-1925)


GROTESCO


Porque é que os lírios me deitam a língua de fora
Quando os corto;
E se torcem e contorcem
E se estrangulam entre os meus dedos, 
Ao ponto de mal conseguir tecer esta grinalda 
Para o teu cabelo? 
Porque é que gritam o teu nome 
E me cospem 
Quando os tento juntar?
Terei de os matar 
Para que fiquem quietos, 
E enviar-te uma coroa de cadáveres suspensos 
Que murchem e apodreçam 
Na tua testa  
Enquanto dansas?


*


ANTONIA POZZI (Itália, 1912-1938)


NOVEMBRO

E depois – quando eu partir
restará alguma coisa
de mim
no meu mundo –
restará um fino rasto de silêncio
no meio das vozes –
um ténue sopro de branco
no coração do azul –

E numa noite de Novembro
uma menina frágil
à esquina de uma rua
venderá braçadas de crisântemos
e lá estarão as estrelas
gélidas verdes distantes –
Alguém chorará
em algum lugar – em algum lugar –
Alguém irá procurar crisântemos
para mim
no mundo
quando sem regresso
eu tiver de partir.


*


ALEJANDRA PIZARNIK (Argentina, 1936-1972)


CAPÍTULOS PRINCIPAIS


Chega a morte com o seu rebanho de ossos
sorrio submissa a uma menina idiota
que implora em meu nome
juntas (a morte, a menina e eu)
não encontramos outro trabalho senão odiar
No final todos se casam:
o mar e as ondas,
a noite e o escuro,
o copo e o vinho,
o anel e o dedo,
a morte e o cadáver.



Poemas escolhidos/traduzidos por Inês Dias,
 aqui compostos/impressos por Luís Henriques e Manuel Diogo 
para A Faca Romba, Lisboa: Oficina do Cego, 2012
LEONARD COHEN, 1979


Era bem claro, nessa noite,
o quanto a sua música
se afastava de "other forms
of boredom advertised as poetry",
denúncia que se mantém válida.

Não serão bússolas duradouras
- tudo, enfim, falece -,
mas são palavras que nos protegem
da avalanche dos dias e dos meses,
destas poucas horas a que chamamos nossas.

Uma maneira de voltar a morrer?
Talvez,
quando até nas cinzas encontramos lume.


Manuel de Freitas
in pequena morte: poemas, Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2008
La Palabra


Expectantes palavras,
fabulosas em si,
promessas de sentidos possíveis,
airosas,
aéreas,
arejadas,
labirínticas.

Um pequeno erro
pode torná-las ornamentais.
A sua exactidão indescritível
pode apagar-nos.


Ida Vitale (Montevideu, 1923)