segunda-feira, 10 de abril de 2017

madrugada, passos soltos de gente que saiu 
com destino certo e sem destino aos tombos 
no meu quarto cai o som depois 
a luz. ninguém sabe o que vai 
por esse mundo. que dia é hoje? 
soa o sino sólido as horas. os pombos 
alisam as penas, no meu quarto cai o pó. 

um cano rebentou junto ao passeio. 
um pombo morto foi na enxurrada 
junto com as folhas dum jornal já lido. 
impera o declive 
um carro foi-se abaixo 
portas duplas fecham 
no ovo do sono a nossa gema. 

sirenes e buzinas, ainda ninguém via satélite 
sabe ao certo o que aconteceu, estragou-se o alarme 
da joalharia, os lençóis na corda 
abanam os prédios, pombos debicam 

o azul dos azulejos, assoma à janela 
quem acordou. o alarme não pára o sangue 
desavém-se. não veio via satélite a querida imagem o vídeo 
não gravou 

e duma varanda um pingo cai 
de um vaso salpicando o fato do bancário 

Luiza Neto Jorge in 'A Lume' 

in Citador

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