sexta-feira, 21 de abril de 2017

VIII

Mas que procuram as nossas almas viajando
no convés de barcos aniquilados
apertadas entre mulheres amarelas e crianças que choram
sem poderem esquecer nem com os peixes-voadores
nem com as estrelas indicadas pelas pontas dos mastros.
Estilhaçadas pelos discos dos gramofones
atadas sem o querer a peregrinações inexistentes
murmurando pensamentos quebrados de línguas estrangeiras.

Mas que procuram as nossas almas viajando
sobre as podres madeiras marítimas
de porto em porto?

Mexendo em pedras partidas, aspirando
a frescura do pinheiro com mais dificuldade cadadia,
nadando nas águas deste mar
e daquele mar,
sem tocar
sem seres humanos
dentro de uma pátria que já não é nossa
nem vossa.

Sabíamos que eram belas as ilhas
por aqui algures onde tacteamos
um pouco mais abaixo ou um pouco mais acima
um espaço mínimo.


yorgos seferis
romance
poemas escolhidos
trad. de joaquim manuel magalhães e nikos pratisinis
relógio d´água
1993


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