ASPECTOS DE UMA DEFINIÇÃO
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- Destrói os teus escritos, já que não tens fé neles.
- São provas contra mim.
- E se todos os teus leitores te absolverem?
- Serei eu a denunciá-los, por serem meus cúmplices.
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Se tivesse coragem, só escreveria poemas anónimos.
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Escolher uma filosofia? Um taoismo da raiva.
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A escreve um poema. B continua-o num desenho. Baseando-se nesse desenho, C compõe uma música. Graças a ela, D consegue aperfeiçoar a percussão de um motor. Este último permite a E descobrir uma nova cura, que inspira F na sua teoria sobre a evolução do pensamento humano. G aplica a teoria de F em poesia. G e A são a mesma pessoa. Ou então: um poema só é válido se a sua última palavra for também a primeira palavra de dez poemas a escrever, a primeira pincelada de cem quadros a pintar, a primeira nota de mil sinfonias a compor. A poesia é indivisível e supera o poema, o seu tapa-buracos.
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Tudo é desespero na poesia: o achado ainda não é o poema, a perfeição já não é o poema.
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Escreve como se as tuas obras fossem já póstumas, e a tua língua uma língua morta. Mas: traduz todos os dias o teu poema da véspera na tua língua de amanhã.
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Alain Bosquet, Poèmes, un (1945-1967),
Paris: Gallimard, 1985
[Trad. ID]
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