domingo, 12 de março de 2017

III
qualquer voz alou-se
muito desejada.
Branco fosse o espaço
e ela ardente cor.
Quis o espaço a voz
a voz veio e ampliou-o.
Mas se não houvesse
propriamente voz…
Vamos nós supô-los:
dois sem seus sentidos.
Desejemos mesmo
dois incompreensíveis.
Bom nos ecoarmos
na voz recebida.
E o espaço esvaziado
povoá-lo de vez.
Amá-los tão sem
amada presença,
só com o coração
sem correspondência,
só com a vocação
do verso feliz.
IV
Numas noites chegamos à janela,
e as mandíbulas do ar tanto nos roem,
que os leitos rotos logo deliqüescem
com os nossos corpos complacentemente.
Certos dias olhamos o sol claro;
e a boca hiante das cores nos devora
carnes e sangues, poeiras de costelas,
que ficamos inúteis, sem matéria.
Essas bocas nos sugam noite e dia,
vigiando dia e noite nossas vidas
um minuto no espaço, menos que ai
de chumbo soluçado nos silêncios,
ou cal de fome longa, revelada,
na noite igual ao dia, de tão gêmeos.
…………….
Jorge de Lima

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