domingo, 9 de outubro de 2016

À Esperança

À esperança (Portuguese)


Meteoro com
terrestres que lança,
tem de Deus o tom
falsa cega Esperança!
Criou-se pra ela
homem infeliz,
e, anjo que vela,
saúda sem vis. –
Espelhas, boca lisa,
o quê? ris, porquê?
Porque se tamisa
duvidoso qu'rer?
Sê sozinha aí!
Fui encorajado;
vozes lindas cri:
inda enganado.

Plantaste narcisos
plo meu jardim fora;
regato de guizos
regou minha flora;
mil flores verteste
em mim - Primavera -,
e sorte celeste
seu perfume era.
Cedo, pensamentos
iam, laboriosas
abelhas, no quente,
para as frescas rosas.
Na minha alegria,
algo me faltava:
de Lilla pedia
coração; céu dava.

Ai, perderam sede
rosas frescas; minhas
fontes, troncos verdes,
secaram, asinha;
Primavera cor,
triste Inverno cedo;
bom mundo anterior
fez-se arremedo.
Oh! deixasses só
Lilla, só aqui:
meu canto de dó
não se queixaria.
Em seus braços bem
esquecia tristeza,
sem invejar quem
se fez realeza.

Deixa-me, Esperança!
Oh, entregue a mim;
que dura avança
minha morte assim.
Sinto dividida
força que em mim era –
quer alma sem vida
céu; meu corpo, terra.
O prado, vazio,
os campos, queimados,
o parque sem pio,
noite nos dois lados. –
Gentis doces trilos!
Quadros de mil têmperas!
Qu'rer! Esperança! Lillas! –
Adeus, para sempre!


Source of the quotationAntologia da Poesia Húngara. Âncora Editora, Lisboa, [2002.] p. 61.


rosa do mundo 2001, Csokonai Vitéz Mihály pág 1011

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