(Elegia)
Ó mar silencioso, mar de lazúli.
Eis-me enfeitiçado no teu abismo.
Estás vivo, respiras; de pensamento inquieto
e amor ansioso te insuflas, ó mar.
Ó mar silencioso, mar de lazúli,
abre-me o teu segredo mais profundo:
o que move o teu seio infinito?
Com que respira o teu peito tenso?
Talvez, de todo o jugo terrenal,
Te atraia o céu longínquo e claro?...
Cheio de vida misteriosa e branda
se, límpido, olhas o límpido céu:
corre em ti o seu azul luminoso,
ardem em ti sua aurora e ocaso,
afagas-lhe as nuvens de ouro e brilhas
alegre no brilho das suas estrelas.
Mas quando as nuvens negras conspiram
para roubar-te a visão do céu claro-
estrebuchas e uivas, levantas a crista
das ondas, rasgas a bruma adversa...
E vai-se a bruma, espantam-se as nuvens,
mas, tomado da recente inquietude,
ainda ergues ondas assustadas,
o brilho afável dos céus devolvidos
não te devolve a paz e o sossego;
é enganador teu espelho parado:
no abismo calmo escondes a ansiedade,
quando miras o céu tremes por ele.
Vassíli Jukóvski (1783-1852)
in rosa do mundo 2001 pág. 1024
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