domingo, 13 de novembro de 2016

[ O teu rosto inclinado pelo vento ]

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O teu rosto inclinado pelo vento;
a feroz brancura dos teus dentes;
as mãos, de certo modo, irresponsáveis,
e contudo sombrias, e contudo transparentes;

o triunfo cruel das tuas pernas,
colunas em repouso se anoitece;
o peito raso, claro, feito água;
a boca sossegada onde apetece

navegar ou cantar, simplesmente ser
a cor dum fruto, o peso duma flor;
as palavras mordendo a solidão,
atravessadas de alegria e de terror;

são a grande razão, a única razão.
Eugénio de Andrade, Doze Poemas
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