Queria roubar ao céu a luz do dia
e oferecer-ta agora, enquanto passam
as aves e o vento
arrasta um «rio de nuvens» infelizes
a caminho da noite. A primavera
põe um sorriso em cada verso, quando
floresce no meu sangue o mais divino
arrepio. Estou só,
mas sei que existe algures uma estrela
ainda por nascer.
De silêncio em silêncio
cintilam as imagens que deixaste
a arder sobre os meus olhos, cuja cinza
abraça este crepúsculo e regressa
ao coração. Entre a folhagem
palpita a voz do sol, estremece ainda
a pura melodia do seu fogo
quase em segredo
– esse primeiro sonho de que é feita
a memória dos deuses no teu rosto.
fernando pinto do amaral
às cegas
relógio de água
1997
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