A Guitarra da Mouraria
Amo a tua guitarra, ó Mouraria,
em que um doer mourisco nos desola,
e as almas, sob a lua, acaricia,
como da Alfama a passional viola!…
Bem galantes solaus também carpia
Severa, essa Ninon de naifa e mola.
Mas há sangue em teus ais!… Tua magia
quantas vezes não traz a Cruz e a Estola!
Vai alta a lua. — Após a cavatina,
Almaviva, com zelos de Rosina,
dá seis golpes na amásia, com furor.
Almaviva é marujo e de melenas.
Prisões, guitarras, ais, céu de açucenas.
— Surge a Polícia… e prende, em fralda, o Amor.
Gomes Leal (1848-1921)
Mefistófeles em Lisboa — e outros humorismos poéticos
(edição de José Carlos Seabra Pereira)
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