terça-feira, 26 de abril de 2016

Mandato de despejo aos mandarins do mundo
Fora tu, reles e snobe plebeu
E fora tu, imperialista das sucatas
Charlatão da sinceridade
e tu, da juba socialista,
e tu, qualquer outro Ultimatum a todos eles
E a todos que sejam como eles Todos!
Monte de tijolos com pretensões a casa
Inútil luxo, megalomania triunfante
E tu, Brasil, blague de Pedro Álvares Cabral
Que nem te queria descobrir
Ultimatum a vós que confundis o humano com o popular
Que confundis tudo Vós, anarquistas deveras sinceros
Socialistas a invocar a sua qualidade de trabalhadores
Para quererem deixar de trabalhar
Sim, todos vós que representais o mundo
Homens altos
Passai por baixo do meu desprezo
Passai aristocratas de tanga de ouro
Passai Frouxos
Passai radicais do pouco Quem acredita neles?
Mandem tudo isso para casa Descascar batatas simbólicas
Fechem-me tudo isso a chave E deitem a chave fora
Sufoco de ter só isso a minha volta
Deixem-me respirar Abram todas as janelas
Abram mais janelas Do que todas as janelas que há no mundo
Nenhuma idéia grande Nenhuma corrente política
Que soe a uma idéia grão
E o mundo quer a inteligência nova
A sensibilidade nova
O mundo tem sede de que se crie
Porque aí está apodrecer a vida
Quando muito é estrume para o futuro
O que aí está não pode durar Porque não é nada
Eu da raça dos navegadores
Afirmo que não pode durar
Eu da raça dos descobridores
Desprezo o que seja menos
Que descobrir um novo mundo
Proclamo isso bem alto Braços erguidos Fitando o Atlântico
E saudando abstractamente o infinito.
“Alvaro de Campos, 1917”

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