domingo, 3 de abril de 2016

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POEMA DE KIÔZÔ TAKAGI

Guia turístico do inferno (Jigoku yûran an´nai)

Senhoras e senhores, desculpem a longa e cansativa viagem
logo chegaremos aos três rios do inferno
vejam, logo à frente
a montanha denominada Tetchisen, a montanha de ferro
em seu sopé, esparrama-se o inferno
o que acham da vista? a claridade é boa, a temperatura, amena?
os senhores imaginavam que a primavera no inferno fosse assim?
Aqui no inferno, os demônios estão em plena campanha salarial
há meio século confinados em Tetchisen, em luta
assim, neste momento, não há demônios no inferno
os mortos, livres da tortura e da faina diária
glorificam a primavera em nosso mundo

olhem! já é possível avistar
aquela é a ponte dos três rios do inferno
o grande edifício ao lado
é a alfândega e a delegacia do inferno
em tempos antigos, um casal de velhos
empilhava os objetos de valor dos falecidos
nos dias de hoje, como até no inferno a vida é dura
paga-se pedágio para entrar
taxam o número de coroas de flores, o número de pessoas
                        [presentes na cerimônia
tributam proporcionalmente o montante de oferendas em
                        [dinheiro no funeral
tudo convertido em trabalho pesado

mais à frente, all right

senhores, a primeira avenida, a primeira avenida do inferno
aqueles sentados à beira da estrada, ao sol, são os mortos
eles nos olham curiosos, até espantados
talvez entre eles haja algum parente próximo dos senhores
no bosque à direita existia, outrora, a montanha das agulhas
                         [e o lago de sangue
foram transformados num belo parque ecológico

mais à frente, all right

aqui, solicito uma parada
trata-se da terceira avenida, a terceira avenida do inferno
em primeiro plano, um magnífico edifício
trata-se da repartição governamental onde Yama, o grande rei
                         [do inferno
julga seus mortos
contudo, Yama, o grande rei do inferno, é peça decorativa nos dias
                         [de hoje
provavelmente, encontra-se, neste momento, no quintal dos fundos
acocorado, a mondar
a edificação ao lado é o museu histórico
onde encontram-se expostos bastões de ferro usados pelos demônios
e tangas de pele de tigre

senhores, nessa profusão de movimentos, não se escuta qualquer ruído
atentem para a diferença do mundo dos vivos
mas apurando os ouvidos, ouvimos um som
é o murmúrio dos mortos
virmos para cá, para o inferno
e não vermos nenhum demônio é lamentável

mas ei-los! naquela direção!
uma manifestação de demônios
avançam em ziguezague em nossa direção
ah! mas porque se tratam de demônios
não podemos prever suas reações
portanto, lamento dizer
devemos regressar

back, all right
partamos, all right


(tradução de Diogo Kaupatez)

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