terça-feira, 17 de janeiro de 2017



A cidade é de borracha lisa e negra,
mas tem vielas com odor a estábulo,
a armazéns de cereais, a madeira molhada,
a selaria, a chicória, a esparto.

Há chilreios que mordem, ruídos inumanos,
há bruscas buzinadas que desincham
meu absurdo coração hipertrofiado.

Alugo-me por horas; rio e choro com todos;
mas escreveria um poema perfeito
se não fosse indecente fazê-lo nestes tempos.



gabriel celaya
antologia da poesia espanhola contemporânea
selecção e tradução de josé bento
assírio & alvim
1985

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