Nós, portugueses, costumamos dizer que temos uma palavra intraduzível: saudade. Não é a mesma coisa que nostalgia (palavra quase igual em muitas línguas) e exprime um sentimento de tristeza pela ausência de alguém. Um dia destes, perguntei-me se “saudade” teria a mesma origem de “saudar” (são tão próximas) e pensei que, no fundo, a saudade talvez significasse um desgosto por não poder cumprimentar alguém que está longe. Mas não: ao que apurei, “saudar” vem de saúde, pelo que ainda hoje os espanhóis se despedem nas cartas com “saludos” e os italianos com “saluti”, querendo no fundo dizer que desejam que os outros estejam ou fiquem bem de saúde, tal como César dizia “salve” e, ao batermos os copos para um brinde, fazemos nós mesmos uma “saúde”. A saudade vem do latim (solitus+atis, uma espécie de solidão, uma vez que solus significa “a um”, ou seja, sozinho). É por o outro se encontrar longe que estamos sozinhos e sentimos a sua falta, expressão que em inglês e francês é mais directa (“I miss you”, sinto a tua falta; “tu me manques”, faltas-me); em espanhol, o correspondente a “tenho saudades tuas” é “te extraño”, que não pode traduzir-se por “estranho-te”, mas que é um pouco o avesso do que se “entranha”, isto é, o que está afastado. Franceses e espanhóis passam o ónus do desgosto para quem falta, nós e os ingleses assumimos a nossa própria solidão. Saúde para todos!
in Hora extrordinárias
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