domingo, 22 de janeiro de 2017
SALOMÉ
Insónia rôxa. A luz a virgular-se em mêdo,
Luz morta de luar, mais Alma do que a lua…
Ela dança, ela range. A carne, álcool de nua,
Alastra-se pra mim num espasmo de segredo…
Tudo é capricho ao seu redor, em sombras fátuas…
O arôma endoideceu, upou-se em côr, quebrou…
Tenho frio… Alabastro!... A minh’Alma parou…
E o seu corpo resvala a projectar estátuas…
Ela chama-me em Íris. Nimba-se a perder-me,
Golfa-me os seios nus, ecôa-me em quebranto…
Timbres, elmos, punhais… A doida quer morrer-me;
Mordoura-se a chorar – há sexos no seu pranto…
Ergo-me em som, oscilo, e parto, e vou arder-me
Na bôca imperial que humanizou um Santo…
Lisboa 1913 – Novembro 3
[MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO]
(in “Orpheu” - 1º número)
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