terça-feira, 17 de janeiro de 2017



I
A espuma do mar
Arrenda-me a sombra
Na areia molhada.
Ecoa nos gritos
Dos pássaros soltos
A voz que afogaram.
Quem mede os segredos
Da mata em que dói
Nasceram-me os ramos
No corpo que a é?

Assim porque sou
Princípio do mundo
Na tábua do barco
No seixo da roda
Na pedra do barro
No ovo da angústia
No parto dos peixes
Vivíparos e ainda
Na primeira mamada
Do cabrito ali

A minha sede antiga
É como se fosse
Pela primeira vez.


antónio pedro
antologia poética
obras clássicas da literatura portuguesa séc. xx
edição de fernando matos oliveira
angelus novus, editora
1998


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