Lisboa Rua do Sol ao Rato
chuva
correndo na direcção do Largo
quase derrubei um velho de sobretudo
que acenava de bengala
gesto ancho
para a graça de um prédio devoluto
admirei a pintura desse
obstáculo posto entre a passagem dos elefantes
Ganecha montado num
Roedor
Mário Cesariny era Surya sob influência
de um Ganges atmosférico
ainda raspei no acontecimento ainda
olhei para trás
e quando de novo me virei
já havia
entrado num veículo desaparecido num aceno
de múltiplos braços
o Sol terá despontado por cima
o rato iluminou
mudou para tarô num anagrama fácil
o bardo
finou subiu tornou enfim ourives
como quisera o pai
porém de um metal distinto agora
corpo invisível
óleo sobre cartão
queremos vê-lo hoje entre uma horda
de anjos marujos
que jamais o deixarão ir sozinho para
casa
amando-o à varanda do tempo como
na praia nortenha da infância
enxame de pirilampos dispersos sobre a água
de um poço escuro
como se de novo a irmã pousasse
sobre a mesa o bule tornasse à cozinha
raspando as pantufas
e de roupão voltasse Mário
da janela
vertesse os dedos extraordinariamente
sobre o marfim pálido
e tocasse
miguel-manso
da cegueira dos pintores
persianas
tinta da china
2015
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