A Sombra (tradução de um poema
de uma língua desconhecida)
Foi ali que um dia sentiu desejos de partir também. Que ficava fazendo sozinha? Quem leva uma lança, leva a mulher também.
O seu xale negro tem um segredo, e o seu mal de morte vem do mesmo dia.
Os anos correram sem novas algumas, e as moças finaram--se velhas, velhas de tanto esperar.
E todas as noites, na margem sombria, uma silhueta franzina de trágica sonâmbula vai seguindo, como um braço murcho de cipreste a boiar ao de cima da corrente que o vai levando — mansamente.
José de Almada Negreiros (1893-1970)
Poemas
(edição de Fernando Cabral Martins, Luis Manuel Gaspar
e Mariana Pinto dos Santos)
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