sábado, 11 de junho de 2016

A Sombra (tradução de um poema 
de uma língua desconhecida)

Foi ali que um dia sentiu desejos de partir também. Que ficava fazendo sozinha? Quem leva uma lança, leva a mulher também.

O seu xale negro tem um segredo, e o seu mal de morte vem do mesmo dia.

Os anos correram sem novas algumas, e as moças finaram--se velhas, velhas de tanto esperar.

E todas as noites, na margem sombria, uma silhueta franzina de trágica sonâmbula vai seguindo, como um braço murcho de cipreste a boiar ao de cima da corrente que o vai levando — mansamente.

José de Almada Negreiros (1893-1970)
Poemas
(edição de Fernando Cabral Martins, Luis Manuel Gaspar 
e Mariana Pinto dos Santos)

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