quinta-feira, 30 de junho de 2016

[Mas será que em vão guardamos
o coração no peito, em vão que]

Mas será que em vão guardamos o coração no peito, em vão que
Apenas nós, mestres e discípulos, esperamos? Pois quem
Quereria opor-se e impedir a nossa alegria?
O fogo divino também nos impele, dia e noite,
A partir. Por isso, vem! Para que contemplemos o espaço aberto,
Para que procuremos o que é nosso, por muito longe que se encontre.
Uma coisa é certa: quer ao meio-dia, quer
até à meia-noite, a todos é comum
Uma medida aplicada diferentemente a cada um,
E vai e vem assim cada um até onde pode.
Por isso à loucura exultante é grato troçar da troça,
Quando de súbito se apodera do vate na noite sagrada.
Vem, pois, ao Istmo! Onde o mar alto sussurra
Junto ao Parnaso e a neve rodeia de luz os rochedos délficos.
Vem à terra do Olimpo, aos cumes do Citéron,
Passar sob os abetos e os vinhedos donde
Se avista ao fundo Tebas e o Ismeno que rumoreja na terra de Cadmo
De onde o Deus que há-de vir se aproxima e para trás aponta.

Friedrich Hölderlin (1770-1843)
Elegias
(tradução e prefácio de Maria Teresa Dias Furtado)

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