Quanto a mim, tal como sou, confesso que presto mais atenção à formação e fabricação das obras, do que às obras em si; tenho o hábito de não apreciar as obras senão como acções. Um poeta é, a meus olhos, um homem que, a partir de um determinado acidente, sofre uma transformação ínterior. Ele distancia-se do seu estado normal de disponibilidade geral, e eu vejo-o a transformar-se num agente, um sistema vivo produtor de versos. Tal como os animais que se podem constituir como hábeis caçadores, construtores de ninhos, fazedores de pontes, perfuradores de túneis e de galerias, vemos surgir nesse homem um sistema organizado que aplica as suas funções a uma obra determinada.
Paul Valéry, in Variété V (pg. 148).
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