Bichos-de-Conta
A lenha estava húmida. Saltaram
dois bichos-de-conta, atordoados pelo fogo,
quando a lareira pegou. Acaçaparam-
-se, como faziam, quando o meu filho
os guardava em caixas de fósforos, novelos
surpreendidos na azáfama das suas tardes.
Que sentiriam os bichos-de-conta?
Enrolados, esperariam iludir a fogueira
ou esquecer a clausura?
Ainda se fossem formigas, assediadas
pelo dever, com o tempo escandido
em prazos e filas, ou salamandras,
que vivem húmidas e se nutrem do fogo,
ou animais clandestinos como a barata,
mas um bicho que se reduz ao mínimo
desconhece o mundo e a morte assusta-o.
José Alberto Oliveira (1952)
Tentativa e Erro — poemas escolhidos e inédito
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