Qualquer coisa valera por minha vida
esta tarde. Qualquer coisa pequena
se alguma há. Martírio me é o ruído
sereno, sem escrúpulos, sem volta,
de teu sapato baixo. Que vitórias busca
aquele que ama? Porque são tão direitas
estas ruas? Nem olho para trás
nem posso perder-te de vista. Esta é a terra
da lição: mesmo os mais amigos
dão má informação. Minha boca beija
o que morre, e o aceita. E a própria pele
do lábio é a do vento. Adeus. É útil,
norma este acontecimento, dizem. Fica
tu com as nossas coisas, tu, que podes,
que eu me irei aonde a noite queira.
Claudio Rodríguez ( 1934-1999 )
(tradução do castelhano antónio carneiro)
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