Esta manhã
há no ar a incrível fragrância
das rosas do Paraíso.
Na margem do Eufrates
Adão descobre a frescura da água.
Uma chuva de ouro cai do céu;
é o amor de Zeus.
Salta do mar um peixe
é um homem de Agrigento lembrará
ter sido ele esse peixe.
Na gruta cujo nome será Altamira
dedos sem rosto traçam a curva
de um lombo de bisonte.
A lenta mão de Virgílio acarinha
a seda trazida
do reino do Imperador Amarelo
por naus e caravanas.
O primeiro rouxinol canta na Hungria.
Jesus vê na moeda o perfil de César.
Pitágoras revela aos seus gregos
que a forma do tempo é a do círculo.
Numa ilha do Oceano
os lebréus de prata perseguem os veados de ouro.
Numa bigorna forjam a espada
que será fiel a Sigurd.
Whitman canta em Manhattan.
Homero nasce em sete cidades.
Uma donzela acaba de caçar
o unicórnio branco.
Todo o passado volta, é uma onda,
e essas antigas coisas regressam
porque uma mulher te beijou.
Poema publicado em La Cifra (1981), aqui em tradução de Fernando Pinto do Amaral, inJorge Luis Borges, Obras Completas, vol III, Editorial Teorema, Lisboa, 1998.
Trazido de Vicio da Poesia
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