quarta-feira, 25 de maio de 2016

Angústia

Será possível que ela me faça perdoar as minhas ambições sempre esmagadas, — que um bem-estar futuro compense as épocas de indigência, — que um dia de êxito adormeça a vergonha da nossa inabilidade fatal? 
(Oh palmas! diamante! — Amor, força! — mais alto que todas as alegrias e glórias! – de todas as maneiras, em todo o lado demónio, deus, — juventude deste ser; eu!) 
Que acidentes de feérie científica e movimentos de fraternidade social sejam encarecidos como restituição progressiva da sinceridade primeira?…
Mas a Vampira que nos faz gentis ordena que brinquemos com o que nos dá, ou então que sejamos mais contentes. 
Rolar nas feridas, no ar exausto e no mar: nos suplícios, no silêncio das águas e do ar assassinos; nas torturas que riem na sua mudez atrozmente encapelada.

Jean-Arthur Rimbaud (1854-1891)
Iluminações — Uma Cerveja no Inferno
(tradução de Mário Cesariny)

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