domingo, 8 de maio de 2016

à Manuela Pilar


O raio fulminou-me os berlindes
        agora invejo os olhos dos mortos
espreitando no telhado da missa
o caminho que seguem os porcos

Risco no céu com uma vara
nomes iguais a qualquer cão
Para a verdura dos séculos fica
uma mensagem de indignação

Os vivos têm berlindes
mas não os querem usar
Bolsos cheios
fatos de cerimónia pretos
nos seios rectos da criada de mamar

Na virgindade de que são feitas as gerações
a par das locomotivas quero
quebrar meus nervos na ânsia que me faz correr
vinagre nas feridas

Hei-de criar uma nova forma de cansaço
gemer a sorrir de medo
no arame que assobia
dançando larguras no espaço

Sabe bem ouvir o silêncio
e a morrer nele a cada instante
ficar na argola de guardanapo
guardado inconstante

Se quisesse que a alegria me desse
um modo simples de ser
não te ouviria no pêndulo que vem
às duas três horas bater

O pêndulo que acelera
vai e traz a tua voz
e morder me desespera
morder a imagem de nós

E acredito que amanhã
torne a ouvir mesmo os ruídos
entalado pelo sol pela noite
com casacos de ratos aos gritos




fernando lemos
teclado universal
cadernos de poesia
campo das letras
2004

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