domingo, 31 de janeiro de 2016

Low - Into You





"Into You"


I can’t explain
The slowing of my brain
The underlying vein
That flows right into you
Trace of oil and shell
Penetrate the well
Time to be so thrilled
It flows right into you
Right through the tomb
Below what’s new
Right into you

It flows right into you
Right through the tomb
Below what’s new
Right into you

La la la la
La la la la

[Não recebo correspondência meu amor]

Não recebo correspondência meu amor
o meu amor não é correspondido
ao contrário do âmbar e do benjoim

Adília Lopes (1960)
Dobra (Poesia Reunida 1983-2007)
*o segredo da chave*
Ela tem
as chaves
no corpo 
e os seus
segredos
no convés
do tempo.
O mar
meu norte
na curvatura
da memória.
Ela e o mar
tragam o vento
questão de amparar
a brisa no tempo.
.
((Wilson Caritta.))

sábado, 30 de janeiro de 2016

Symphony No. 9 in D minor ('Choral') Op. 125 - Molto vivace

David Sylvian + Robert Fripp - Damage







I found the way
By the sound of your voice
So many things to say
But these are only words
Now I've only words
Once there was a choice

Did I give you much?
Well, you gave me things
You gave me stars to hold
Songs to sing

I only want to be loved

And I hurt and I hurt
And the damage is done
You gave me songs to sing
Shadow and sun
Earthbound, starblind
Tied to someone

Why didn't I stay?
Why couldn't I?
So many lives to cross
Well, I just had to leave
There goes everything
Everything

Can I meet you there?
God knows the place
And I'll touch your hand
Kiss your face

We only want to be loved
We only want to be loved

I only want to be loved
And I hurt and I hurt
And the damage is done
You gave me songs to sing
Shadow and sun
Earthbound, starblind
Tied to someone
Quem é o selvagem efusivo e cordial?
Está à espera da civilização ou ultrapassou-a, fazendo-a sua?

Será do Sudoeste, criado ao ar livre? Canadiano?
Das terras do Mississípi? De Iowa, Oregon, Califórnia?
Das montanhas? Das pradarias, dos bosques? Ou virá dos
mares?
Aonde quer que vá, homens e mulheres aceitam-no e
desejam-no.
Desejam que goste deles, que os toque, que lhes fale, que
fique com eles.
Conduta sem lei como as flores de neve, palavras simples
como a erva, cabelo despenteado, riso e inginuidade,
Passos lentos, traços comuns, modos comuns, e comuns
exalações,
Descendo em novas formas das pontas dos dedos,
Impregnados do odor do seu corpo ou da sua respiração,
nascendo do seu olhar.

[WALT WHITMAN (1819 - 1892)]
(Folhas de Erva)
(selecção e tradução de José Agostinho Baptista)
(in Poemário Assírio & Alvim 2013)
I

Quem não sai de sua casa,
não atravessa montes nem vales,
não vê eiras
nem mulheres de infusa,
nem homens de mangual em riste, suados,
quem vive como a aranha no seu redondel
cria mil olhos para nada.
Mil olhos!
Implacáveis.
E hoje diz: odeio.
Ontem diria: amo.
Mas odeia, odeia com indômitos ódios.
E se se aplaca, como acha o tempo pobre!
E a liberdade inútil,
inútil e vã,
riqueza de miseráveis.

II

Como sempre, há-de-chegar, desde os tempos!
Vozes, cumprimentos, ofegantes entradas.
Mas que vos reunirá, pensamentos?
Chegais a existir, pensamentos?
É provável, mas desconfiados e inválidos,
Rosnando estúpidos, com cães.

Ó inúteis, aquietai-vos!
Voltai como os cães das quintas
ao ponto da partida, decepcionados.
E enrolai-vos tristonhos, rabugentos, desinteressados.

III

Esse gesto...
Esse desânimo e essa vaidade...
A vaidade ferida comove-me,
comove-me o ser ferido!

A vaidade não é generosa, é egoísta,
Mas chega a ser bela, e curiosa!
E então assim acabrunhada...
Com franqueza, enternece-me.

Subtil
A minha mão que, julgo, ridicularizas,
de que desconheces a suavidade,
cerra-te pacificamente os olhos
e aquieta benignamente o ar.
Paira sobre a tua cabeça, móbil, branda,
na prática de um velho rito,
feminil, piedoso, desconhecido e inconfesso.

IV

Ó luxúria brutal, perversa e felina,
dos outros, alheia,
sem pensamentos nem repouso!
retira-me da frente o venenoso cálice,
a tua peçonha adocicada.
Que a morte, o nirvana, a indiferença
dos longuíssimos anos sem sobressaltos, me retome.

Abro os braços e meço: cá, lá... cá, lá...
solidão, infinita solidão!
E neste movimento, neste balouço, adormeço,
Cá, lá... morte, vida... morte, vida...
Todas as ausências, todas as negações.

V

Os poetas cumprimentam-se, delicados.
Cada um como seu metro, o seu espírito, a sua forma;
as suas credenciais...
Mas são simpáticos os poetas!
Sensíveis, femininos, curiosos.
Envolve-os um mistério.
Não! Esta é a linguagem de toda gente: o mistério...
Que mistério?
Os poetas são apenas reservados, são apenas...
perturbados e capciosos.

VI

Cai um pássaro do ar, devagar, muito devagar.
E as árvores soturnas não se mexem.
Estio!
Não se vêem bulir as árvores, em bloco, ou aos arcos,, estampadas...
Elegante Lapa! Sol fosco, paisagem de manhã.
A gente do sítio, pobreza e riqueza, ainda recolhida.
Aqui, uma janela discreta que se abre, preta, cega.
Ali outra fechada.
E esta alternância, bastante irregular, vai-se repetindo, repete-se...

E eu, ai eu! Prisioneira, sempre prisioneira; tão enfadada!


irene lisboa
um dia e outro dia…
1936
" Ha habido escuelas de pensamiento que han aceptado la voz de eros como algo trascendente de hecho y han tratado de justificar lo absoluto de sus mandatos. Platón sostendrá que " enamorarse " es el reconocimiento mutuo en la tierra de las almas que habían sido seleccionadas unas para otras en una existencia celestial anterior. Encontrar al ser amado es comprender que " nos amábamos antes de haber nacido ". Como mito para expresar lo que sienten los enamorados es admirable; pero si uno lo aceptara al pie de la letra, se encontraría frente a embarazosas consecuencias. Tendríamos que concluir que en esa celestial y olvidada vida las cosas no funcionaban mejor que aquí. Porque el eros puede unir a los compañeros de yugo menos adecuados; muchos matrimonios desgraciados cuya desgracia era previsible, fueron matrimonios de amor "

               C. S. Lewis ( 1898-1963 )
" Decid, vano deseo, ¿ qué os engaña ?
       ¿ Qué salidas son estas que habéis hecho,
       rompiendo el triste y limitado pecho,
       para intentar tan bárbara hazaña ?

       ¿ No veis que aquellos ojos muestran saña,
       en quien está mi daño y mi provecho,
       y que, a la fin, habéis, a mi despecho
       de volveros al puesto con la caña ?

       No deis de vos al mundo más venganza;
       reprimid el exceso, que es delito
       que suele ser del tiempo castigado "

          Baltasar del Alcázar ( 1530-1606 )

          ( Foto de autor desconocido )
Deixaste a ressurreição a meio.
Não me lembro de nada tão incompleto como ela.
O meu director fala de objectivos, fazemos mapas
e somos despedidos se. Ou temos prémios
e corrupção. Haja alguma arte em tudo isto.
Senhor, o teu corpo está seco na gaveta.
Estás no meio de nós coberto de bolor.
Nas palavras de São Paulo a criação teve parto e dores
em relação. Um prelúdio, sabemos hoje, prelúdio
sem mais nada. Os animais não aspiram à eternidade.
Nisto deveria consistir a alma que lhes foi negada.
Por menos despediria eu um empregado.
O meu cão brinca a que eu sou o cão dele.
Atira-me um osso e corro atrás, todos corremos atrás.
Mas é assim que se sobe na vida porque aspiramos.
Prova provada de que temos alma.
Rosa Alice Branco
Soletrar o Dia, Quasi Edições, 2002
Quando sob os pinheiros, e quando escrava,
minha alma vestia um corpo torturado,
ainda a terra voava célere para mim
e as aves se desvairavam ao som rouco dos cavalos.

Agulhas negras, escamas de pinheiro,
                                                                    as cascas,
e rubro sob os pés jorra
                                           o mirtilo,
e meus furiosos dedos rasgam pálpebras,
meu corpo quer viver. Será que este
                                                                  sou eu?

Serei eu de carbonizada boca procurando
os joelhos das raízes secas, e que a terra
engole como outrora o sangue, e as irmãs
de Faetonte se transfiguram, choram âmbar?



arsenii tarkovskii
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
trad. nina guerra e filipe guerra
assírio & alvim
2001

" Si se hiciese un análisis psicotécnico de un gran intelectual y de un campeón de boxeo, se observaría probablemente que su astucia, valentía, precisión y capacidad coordinativa, así como la rapidez de reacciones en su campo de interés, son en el fondo las mismas; y que la virtud y las aptitudes que determinan el éxito no se diferencian sustancialmente de las de cualquier famoso caballo vencedor en carreras de obstáculos, pues no se deben menospreciar las relevantes cualidades que se ponen en juego al saltar una valla "


              Robert Musil ( 1880-1942 )

Telescopes team up to produce highest-resolution astronomical image | Astronomy.com

Telescopes team up to produce highest-resolution astronomical image | Astronomy.com
Telescopes team up to produce highest-resolution astronomical image

Sixteen telescopes from space and the ground revealed a gorging black hole in a galaxy 900 million light-years from Earth.



Aquele Outro

O dúbio mascarado — o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito — 
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.

Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco dum vómito — 
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso.

O sem nervos nem Ânsia — o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda…)
Apesar de seus berros ao Ideal.

O raimoso, o corrido, o desleal — 
O balofo arrotando Império astral:
O mago sem condão — o Esfinge gorda…

Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)
Verso e Prosa
(edição de Fernando Cabral Martins)

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Como uma Voz de Fonte que Cessasse

Como uma voz de fonte que cessasse 
(E uns para os outros nossos vãos olhares 
Se admiraram), p’ra além dos meus palmares 
De sonho, a voz que do meu tédio nasce 

Parou... Apareceu já sem disfarce 
De música longínqua, asas nos ares, 
O mistério silente como os mares, 
Quando morreu o vento e a calma pasce... 

A paisagem longínqua só existe 
Para haver nela um silêncio em descida 
P’ra o mistério, silêncio a que a hora assiste... 

E, perto ou longe, grande lago mudo, 
O mundo, o informe mundo onde há a vida... 
E Deus, a Grande Ogiva ao fim de tudo... 

Fernando Pessoa, in "Cancioneiro" 

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

“The eyes have undressed things that hands have dressed.”
Charles de Leusse


In a battle of believability, the winner is the one with the best body language, not the clearest logic.”
  
 ―    Jarod Kintz


I

Nascido em Portugal, de pais portugueses,
e pai de brasileiros no Brasil,
serei talvez norte-americano quando lá estiver.
Coleccionarei nacionalidades como camisas se despem,
se usam e se deitam fora, com todo o respeito
necessário à roupa que se veste e que prestou serviço.
Eu sou eu mesmo a minha pátria. A pátria
de que escrevo é a língua em que por acaso de gerações
nasci. E a do que faço e de que vivo é esta
raiva que tenho de pouca humanidade neste mundo
quando não acredito em outro, e só outro quereria que
este mesmo fosse. Mas, se um dia me esquecer de tudo,
espero envelhecer
tomando café em Creta
com o Minotauro,
sob o olhar de deuses sem vergonha.


II

O Minotauro compreender-me-á.
Tem cornos, como os sábios e os inimigos da vida.
É metade boi e metade homem, como todos os homens.
Violava e devorava virgens, como todas as bestas.
Filho de Pasifaë, foi irmão de um verso de Racine,
que Valéry, o cretino, achava um dos mais belos da "langue".
Irmão também de Ariadne, embrulharam-no num novelo de que se lixou.]
Teseu, o herói, e, como todos os gregos heróicos, um filho da puta,
riu-lhe no focinho respeitável.
O Minotauro compreender-me-á, tomará café comigo, enquanto
o sol serenamente desce sobre o mar, e as sombras,
cheias de ninfas e de efebos desempregados,
se cerrarão dulcíssimas nas chávenas,
como o açúcar que mexeremos com o dedo sujo
de investigar as origens da vida.


III

É aí que eu quero reencontrar-me de ter deixado
a vida pelo mundo em pedaços repartida, como dizia
aquele pobre diabo que o Minotauro não leu, porque,
como toda a gente, não sabe português.
Também eu não sei grego, segundo as mais seguras informações.
Conversaremos em volapuque, já
que nenhum de nós o sabe. O Minotauro
não falava grego, não era grego, viveu antes da Grécia,
de toda esta merda douta que nos cobre há séculos,
cagada pelos nossos escravos, ou por nós quando somos
os escravos de outros. Ao café,
diremos um ao outro as nossas mágoas.


IV

Com pátrias nos compram e nos vendem, à falta
de pátrias que se vendam suficientemente caras para haver vergonha]
de não pertencer a elas. Nem eu, nem o Minotauro,
teremos nenhuma pátria. Apenas o café,
aromático e bem forte, não da Arábia ou do Brasil,
da Fedecam, ou de Angola, ou parte alguma. Mas café
contudo e que eu, com filial ternura,
verei escorrer-lhe do queixo de boi
até aos joelhos de homem que não sabe
de quem herdou, se do pai, se da mãe,
os cornos retorcidos que lhe ornam a
nobre fronte anterior a Atenas, e, quem sabe,
à Palestina, e outros lugares turísticos,
imensamente patrióticos.


V

Em Creta, com o Minotauro,
sem versos e sem vida,
sem pátrias e sem espírito,
sem nada, nem ninguém,
que não o dedo sujo,
hei-de tomar em paz o meu café.



jorge de sena
peregrinatio ad loc infecta
1969