sábado, 30 de janeiro de 2016


Aquele Outro

O dúbio mascarado — o mentiroso
Afinal, que passou na vida incógnito.
O Rei-lua postiço, o falso atónito — 
Bem no fundo, o cobarde rigoroso.

Em vez de Pajem, bobo presunçoso.
Sua Alma de neve, asco dum vómito — 
Seu ânimo, cantado como indómito,
Um lacaio invertido e pressuroso.

O sem nervos nem Ânsia — o papa-açorda,
(Seu coração talvez movido a corda…)
Apesar de seus berros ao Ideal.

O raimoso, o corrido, o desleal — 
O balofo arrotando Império astral:
O mago sem condão — o Esfinge gorda…

Mário de Sá-Carneiro (1890-1916)
Verso e Prosa
(edição de Fernando Cabral Martins)

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