quinta-feira, 21 de janeiro de 2016


Insónia


Sai um homem
para fora de si mesmo
e empurra o seu poema
para as páginas da noite

levanta-se da cama
e põe os polegares
a soletrar o branco
que julga nas paredes

começa a poesia anémica da pele
a derrotar os mitos
e as coisas mais difusas parecem-lhe
formigas no solo da confusão

o hálito dos velhos despega-se
da roupa e um mapa adoentado
parece-lhe um filme que vai
roçar-lhe os dedos e mutilar a noite.

Armando Silva Carvalho (1938)
O que Foi Passado a Limpo


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