segunda-feira, 18 de janeiro de 2016


As Aves


Descomunais, com seus pios. 
Torvas, aterrorizavam-me. 
O simples voo, excessivas, 
em círculo. Asas 
que batiam rente 
às têmporas, de ferro.
E minto: havia verdes, 
gozosos papagaios; 
conta-se mesmo o caso 
daquele capitão (…) 
Ó serenidade. Rudes telhas 
em… (flash-back) 
para o espanto dos 
gorriones, mira mira 
chico mira qué bellos 
— o avô — mas a ti 
respondo já: eram negras, 
negras aves famintas, 
descomunais, saídas do sono 
cortado a meio, fantasmas 
(concedo), e morrias, 
mira qué listos eh? (…) 
que os tinha mansos 
nas gaiolas de cana, 
mas negras, aves negras, 
e batendo, com seus pios 
em círculo, batendo 
como asas, onde pode 
meter-se ainda a imagem 
do capitão (…) carajo! 
(…) e das gaiolas, estoutras 
as aves: muito diferentes: 
descomunais, já disse, 
e não há chance, vazam 
o poema, se é porém 
certo que finalmente 
sei escrever senão ainda 
sobre a guerra, mira. 
Com seus pios, mira.

Fernando Assis Pacheco (1937-1995)
A Musa Irregular

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