segunda-feira, 25 de janeiro de 2016



Alegre regressa o marujo ao rio tranquilo,
De longínquas ilhas, quando colheu seu lucro;
Também eu voltaria assim à terra natal, tivesse eu
Tantos bens colhido como dores colhi.
Ribeiras queridas, que outrora me criastes,
Acalmais vós as dores do amor? Prometeis-me vós,
Bosques da minha juventude, se eu
Voltar, mais uma vez repouso?
Junto ao regato fresco, onde vi brincar as ondas,
Junto ao rio, onde vi singrar os barcos,
Em breve eu estarei; a vós, montes amigos
Que outrora me abrigastes, da minha terra
Seguras fronteiras veneradas, à casa materna
E aos abraços dos irmãos amado,
A todos saúdo em breve, e vós me envolvereis,
Que, como em faixas, o coração me sare,
Ó meus fiéis! Mas eu sei, eu sei,
A dor do amor, essa não cura tão breve,
Essa não me afasta do peito
Nenhuma canção de embalo, que mortais cantem.
Porque aqueles que nos dão o fogo celeste,
Os deuses, também nos dão a dor sagrada.
Por isso esta fique. Filho da terra
Pareço eu: feito para amar, para sofrer.
Obras Completas II, Fundação Calouste Gulbenkian, 1997
tradução de Paulo Quintela

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