sábado, 30 de janeiro de 2016

Quando sob os pinheiros, e quando escrava,
minha alma vestia um corpo torturado,
ainda a terra voava célere para mim
e as aves se desvairavam ao som rouco dos cavalos.

Agulhas negras, escamas de pinheiro,
                                                                    as cascas,
e rubro sob os pés jorra
                                           o mirtilo,
e meus furiosos dedos rasgam pálpebras,
meu corpo quer viver. Será que este
                                                                  sou eu?

Serei eu de carbonizada boca procurando
os joelhos das raízes secas, e que a terra
engole como outrora o sangue, e as irmãs
de Faetonte se transfiguram, choram âmbar?



arsenii tarkovskii
a rosa do mundo 2001 poemas para o futuro
trad. nina guerra e filipe guerra
assírio & alvim
2001

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