domingo, 10 de janeiro de 2016


A uma Dança Alegórica de Mulheres
por Andrea Mantegna (no Louvre)


Dificilmente, penso eu; mas pode de facto ser que
O significado o alcançou, quando esta música correu
Clara pela sua estrutura, uma ânsia doce e possessiva,
E ele captou estas rochas e aquele mar encrespado.
Mas acredito que, inclinando-se para eles, ele
Sentiu apenas o cabelo delas lançado contra a sua face
A cada rapariga que por ele passava. Nem deu para ouvir
Quantos pés. Nem seguramente desviou
Os seus olhos da cega fixidez do pensamento

Conhecer as dançarinas. É uma alegria amarga
Que chega às lágrimas. O seu sentido encheu-o
Um segredo das fontes da Vida: para entender: —
Cada pulsar do coração manterá o sentido que tinha
Com o todo, embora o trabalho da mente corra para o nada.

Dante Gabriel Rosseti (1828-1882)
in Os Pré-Rafaelitas — antologia poética
(prefácios e tradução de Helena Barbas)

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