quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Contrapõe-se muitas vezes a ideia de Poesia à do Pensamento, e sobretudo do «Pensamento abstracto». Costuma dizer-se «Poesia e Pensamento abstracto» como se se dissesse o Bem e o Mal, o Vício e a Virtude, o Quente e o Frio. Grande parte das pessoas acredita, sem qualquer outra reflexão, que as análises e o trabalho do intelecto, os esforços da vontade e da precisão em que se empenha o espírito, não se compaginam com esta ingenuidade da fonte, esta superabundância de expressões, esta graça e esta fantasia que distinguem a poesia e que fazem reconhecê-la a partir das primeiras palavras. Se encontramos profundidade, parece de toda uma outra natureza, muito diferente da filosofia ou de um sábio. Alguns chegam mesmo a pensar que a própria meditação sobre a arte, o rigor do raciocínio aplicado à cultura das rosas, não podem perder um poeta, uma vez que o principal e o encanto maior do objecto do seu desejo deve ser comunicar a impressão de um estado nascente (e felizmente nascente) da emoção criadora, que, pela virtude da surpresa e do prazer possa indefinidamente subtrair o poema a toda a reflexão crítica posterior.

Paul Valéry, in Variété V (pg. 129).

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