POEMA DO DIA
02 de Janeiro de 2016
Viagens
No ill companion on a journey, Death lays
his purse on the table and opens the wine
Basil Bunting
Os vidoeiros inclinam a cabeça à passagem
do vento, o nevoeiro despega-se dos ramos.
O cão debruça-se para o regato e bebe água.
A morte partiu em viagem. Aqui tomou o pequeno-
-almoço e alguém a viu, num desses restaurantes
que se oferecem às estradas, sujos e barulhentos,
a mastigar sandes de queijo, de pé, ao balcão.
Esta alegoria, talvez por gasta, não me tranquiliza:
a loucura, a doença, ou a continuação da vida
pelos recantos da casa, podem esperar-me,
de súbito, na tarde. As porteiras enxotam os cães
dos baldes de lixo ainda por recolher, com gritos
e vassouras. Mostram hostilidade
nas madeixas despenteadas, no sorriso forçado.
Pousam o pano do pó e param, interrogativas:
já não ousarei entrar; a comida esfria no prato,
mas é preferível percorrer a cidade em autocarros
desconfortáveis, suportar a fuga e o calor.
José Alberto Oliveira (1952)
Tentativa e Erro — poemas escolhidos e inéditos
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