domingo, 3 de abril de 2016


as roupas, o silêncio

a memória dos outros, estalada e suja, nesses olhos de conhaque, nossas mãos que seguram um copo com a finura própria do vidro, desembainhando os dedos das mangas negras, desembainhando o corpo (esse tecido), resistindo à agonia, ao inquérito, ao tórax da noite; a memória dos outros, essa fugidia, essa que mora na língua – ah!; essa memória que me conta por onde estivestes – e eu não estive; por onde as ruas foram uma vez magnéticas, por onde os ténis (esses, brancos) foram despejados como areia; a memória de quando, em Janeiro, na lapa, andamos feito dois guarda-chuvas ( eu não andei, mas caí no centro de sua voz) essa memória inquieta, justa, que estala as unhas na mesa, a memória. a memória. – bruna, no último século, te juro, seremos sós, cada qual com sua roupa e seu silêncio.


thyago marão villela
euOnça
volume_dois
editora medita
2014

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