COCSET, 2002
Não te esqueças de Casals,
do perfume sombrio das laranjeiras,
dos primeiros versos de Eugénio
ou daquele tio que desiludiste
ao dizeres que não era de mulher
o corpo que esses versos
mais amavam. Não te esqueças.
Tão depressa a morte cairá
sobre este poema. Recorda,
porém, a buganvília que abraçava
a varanda da casa e os amigos
todos que lá iam. Volta a sentir
na tua mão o peso das mãos
que um dia tiveram a destreza
do arco sobre as cordas
— à mercê de uma música sem saída.
Não te esqueças.
Ou melhor: esquece-te.
Manuel de Freitas (1972)
A Última Porta — antologia
(selecção e posfácio de José Miguel Silva)
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