segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

COCSET, 2002

Não te esqueças de Casals, 
do perfume sombrio das laranjeiras, 
dos primeiros versos de Eugénio
ou daquele tio que desiludiste
ao dizeres que não era de mulher
o corpo que esses versos
mais amavam. Não te esqueças.

Tão depressa a morte cairá 
sobre este poema. Recorda, 
porém, a buganvília que abraçava
a varanda da casa e os amigos
todos que lá iam. Volta a sentir
na tua mão o peso das mãos
que um dia tiveram a destreza
do arco sobre as cordas
— à mercê de uma música sem saída.

Não te esqueças.
Ou melhor: esquece-te.

Manuel de Freitas (1972)
A Última Porta — antologia
(selecção e posfácio de José Miguel Silva)

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