quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016
Dom do Poema
Trago-te de Idumeia a filha duma noite!
Negra, de asa a sangrar, sem plumas e sem cor,
Pelo vidro a arder de arómatas e ouro,
Pelas janelas frias, ai de nós! sempre foscas,
A aurora se lançou sobre a lâmpada angélica.
Palmas! E quando ela exibiu a relíquia
Ao pai a esboçar um sorriso inimigo
A solidão azul e estéril fremiu.
Ó mulher embalando a filha e a inocência
Dos pés frios, acolhe o horrível nascimento:
E de voz a imitar a viola e o cravo
Com o dedo já seco o seio premirás
Por que escorre a mulher tão branca e sibilina
Para o lábio voraz do ar azul e virgem?
Stéphane Mallarmé (1842-1898)
Poesias
(tradução, prefácio e notas de José Augusto Seabra)
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