domingo, 21 de fevereiro de 2016

[corpo]

corpo
que te seja leve o peso das estrelas
e de tua boca irrompa a inocência nua 
dum lírio cujo caule se estende e
ramifica para lá dos alicerces da casa

abre a janela debruça-te
deixa que o mar inunde os órgãos do corpo
espalha lume na ponta dos dedos e toca
ao de leve aquilo que deve ser preservado

mas olho para as mãos e leio
o que o vento norte escreveu sobre as dunas

levanto-me do fundo de ti humilde lama
e num soluço da respiração sei que estou vivo
sou o centro sísmico do mundo

Al Berto (1948-1997)
Vigílias
(selecção e prólogo de José Agostinho Baptista)

Sem comentários:

Enviar um comentário