segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016


T. de Pascoaes

Não digo que a escuridão seja um resíduo cromático 
do poente. Coloco o nada no horizonte a órbita 
da Lira. A noite é uma vala crematória 
onde está sepulta e incolor a Antiguidade. 

Parei no pórtico Aristóteles poisara as aves 
numa uva. Eu bendisse o estilo e dissuadi 
o crente imaginário que respondera ao eco. 
Comparo os símbolos dos poetas do Orfeu 
com os da alquimia. 

Todos os que haviam descrito o inferno se exaltaram 
Pascoaes não fora o último emissário 
de que por detrás das colunas fictícias de uma noite 
fica nítido o passado memorável para o futuro. 

Anoto a noite com o mito de que o nocturno 
é um idioma. Vi cada árvore dissolver as linhas 
de incisão o cume engrandecer a curva 
o Regresso às crostas do pó estrelas cristalinas.

Fiama Hasse Pais Brandão (1939-2007)
Obra Breve

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