terça-feira, 2 de fevereiro de 2016

Vazio no Meio do Mar


Quem ama o tempo como eu nesta manhã de ruídos
que se afastam de mim e me fazem sentir
vazio no meio do mar?
Quem devora este ar tão benfazejo à boca
e ao replicar das ondas
nos ouvidos como sinos de água?

Um tempo que se curva,
com o início nos joelhos dobrados na infância,
na mãe obsessiva,
e vem,
como de onda em onda,
transportando as dores, até este rochedo
que me suga os anos
e morde, devagar, a memória
da vida.

Armando Silva Carvalho (1938)
De Amore

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